segunda-feira, 21 de março de 2016

Bocage - Autoretrato




Auto-retrato


Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;
Incapaz de assistir num só terreno, 
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos, por taça escura, 
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades,

Eis Bocage em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.

Bocage
Poesias de Bocage
Lisboa, Comunicação, 1992 (4ª ed.)



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